quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Características de Pessoa


ESCOLA:

FILOSOFIA - 10.º __ / Ficha de trabalho n.º __

A dimensão ético-política: análise e compreensão da experiência convivencial.
º Intenção ética e norma moral.
Temas-Problemas:
- Quais as características da pessoa?

CARACTERÍSTICAS DA PESSOA


A pessoa é a base da reflexão ética, é o centro e fundamento da ética, o lugar onde os valores éticos se revelam.
Na noção de pessoa estão incluídas as mais dignificantes características do ser humano, que fazem dele o ser supremo, o sujeito, a fonte e o critério de qualquer apreciação valorativa.


Características e sua descrição:

Singularidade / Individualidade - cada ser humano é uma essência individual. O que faz de cada um de nós um ser único, irrepetível e insubstituível, um “eu”.

Unidade - cada ser humano é um micro­cosmos, um centro de decisão, uma totalidade concreta, uma unidade psicológica e moral.

Autonomia/Liberdade - centro de decisão e de acção, o ser humano tem em si o princípio e a causa do seu agir, apesar de condicionado. Entre as suas manifestações mais elevadas encontra-se a possibilidade de se auto-determinar.


Interioridade/ Subjectividade - em cada ser humano há um espaço de reserva e de intimidade que é inacessível, inviolável - é a zona da consciência; consciência de si.

Abertura - singularidade, unidade e autonomia podem esgotar a noção de indivíduo mas não esgotam a de pessoa. Só somos verdadeiramente pessoas na relação com os outros e com o mundo.

Projecto/Possibilidade - não se nasce pessoa. Ser pessoa não é coisa dada; é uma das possibilidades humanas que cada um deve realizar.

Proximidade - a pessoa estabelece vínculos de proximidade com os outros, manifestando solidariedade e amizade.

Compromisso - a identidade da pessoa forma-se pelos compromissos que assume. Ao comprometer-se, a pessoa age recusando a neutralidade, a indiferença.

Crítica - a pessoa dispõe de uma dimensão crítica com que avalia os diversos aspectos da vida. Esta capacidade crítica faz com que o homem seja capaz de dizer não ao que lhe parece negativo e se empenhe na construção de um mundo diferente.

Dignidade - a pessoa é um valor incomensurável. Ocupa o lugar cimeiro no conjunto dos seres do universo. Neste sentido, a pessoa é a mais elevada forma de existência e tem valor absoluto.

Nota: este tema-problema, relativo às características da pessoa, poderá ser consumado através de uma ficha de trabalho em que conste um quadro de duas entradas, de um lado a coluna das características, do outro a sua descrição. A descrição das características é apresentada na íntegra, os alunos apenas a terão de fazer corresponder à(s) característica(s) respectiva(s).

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Aproximação Simbólica à especificidade da Filosofia

A AVE DE ATENA

A ave de Atena é tida como o mais antigo símbolo da filosofia.
Atena, deusa da sabedoria e da fecundidade, aparecia associada, na mitologia grega, à coruja, cuja nota distintiva é a de se levantar ao anoitecer e andar vigilante e activa pela calada da noite.
Auxiliada apenas pela luz da lua, dotada de uma excepcional acuidade visual, vê o que o comum dos outros animais só consegue alcançar com a luz do sol. É essa invulgar capacidade de ver e de orientar no mundo das trevas que faz dela um símbolo da filosofia e do conhecimento racional: a coruja, tal como a filosofia, simboliza a reflexão que domina as trevas ou a capacidade de obter conhecimentos para lá das sombras.


O PENSADOR DE RODIN


Um outro símbolo da atitude filosófica é a estátua do escultor francês Rodin, denominada Pensador. Nu e solitário, de olhos fechados, sentado com o queixo apoiado no punho direito e o braço esquerdo descaído sobre o colo, o pensador é tomado como símbolo da atitude reflexiva que particulariza a filosofia. Trata-se de um símbolo rico mas controverso.
O que a sua atitude de homem pensativo tem de positivo é a capacidade de se recolher sobre si mesmo para submeter ao seu próprio juízo crítico a realidade que o envolve. O que tem de negativo e contrário ao espírito da filosofia é precisamente a dimensão solitária ou solipsista dos seus pensamentos a que ninguém pode ter acesso, incomunicáveis, portanto, e, por isso, inúteis para a comunidade.

A ESCOLA DE ATENAS


Um terceiro símbolo da filosofia é esse quadro magnífico do pintor italiano Rafael, cujas figuras centrais são Platão e Aristóteles.
Platão, apontando para o alto, recorda, como a filosofia, que a natureza humana não se esgota na realidade terrena em que assentamos os pés. Recorda, tal como a filosofia, que é próprio do ser humano elevar-se acima das terrestres preocupações e contemplar os valores espirituais, morais, estéticos, políticos, etc..
Aristóteles, por seu lado, estendendo o braço com a palma da mão voltada para baixo, indica que o ser humano é daqui, pondo em destaque a dimensão corpórea e física da natureza humana.
O quadro pode também ser tomado como símbolo do diálogo que se trava na história da filosofia entre posições e teses frequentemente opostas a exigirem ponderação dialógica.

Adaptado de: Vicente, joaquim Neves, Razão e Diálogo-Introdução à Filosofia, Porto Editora, 1998, p.65.


Multiculturalismo, Interculturalidade e Educação

Se é verdade que “somos humanamente configurados para e pelos nossos semelhantes”[1] ou, de outro modo, se a “humanidade é algo que depende em boa medida do que fazemos uns com os outros”[2], como, aliás, nos provam os casos de meninos selvagens, então, não é menos verdade aquilo para que Hans Küng nos chama a atenção na sua obra “Projecto para uma Ética Mundial”, a necessidade de nos relacionarmos com toda a ecúmena, isto é, com todo o mundo habitado, sem distinção de sexo, idade, cor, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social. Com efeito, precisamos de todos para tentar dizer melhor, “embora na gaguez quase muda”[3], aquilo que somos. “Gaguez quase muda” porque “a vida, ela toda, é um extenso nascimento”[4]. O homem, tal como a cultura, por mais que se complete, está sempre em aberto, ou seja, deixa sempre algo por dizer ou por ouvir, está, constantemente, em construção e no único momento em que poderia dar a obra por concluída já não o pode fazer porque o não pode dizer, ou seja, está morto. De outro modo e para utilizarmos a terminologia de Kuhn, acerca dos paradigmas, o homem, e tudo o que dele resulta, é incomensurável, ou seja, está em eterno devir.
Ora, por tudo isto, é evidente que as noções de “identidade(s) refúgio” e “identidade(s) tribais” não fazem qualquer sentido e que a ideia de cultura como fronteira, linha que separa o dentro e o fora, está completamente obsoleta. Nós somos uns com os outros, fecharmo-nos, isolarmo-nos dos ou de alguns outros é uma atitude assassina, que mata algumas das possibilidades de ser.
A melhor palavra para traduzir a existência humana é a de “mestiçagem”, isto porque este termo nos remete para a ideia “do ser lapso e carente que só se realiza num processo infinito de encontro com os outros”
[5] e para experiências que, nas palavras de François Laplantine e Alexis Nouss, são de desapropriação, ausência e incerteza. O mundo, hoje, é um espaço que deve ser visto “como uma estrutura reticular em que se circula”[6], isto é, hoje, temos que ter bem claro que “não se mora, viaja-se e viaja-se num tempo e num espaço globais”[7] e que é nele que se forma a nossa identidade que, como nos diz Amin Maalouf, é compósita e se caracteriza por múltiplas pertenças. O homem, como no-lo lembra a ideia de topopoligamia de U. Beck, está “casado com vários lugares e pertence simultaneamente a vários mundos”[8]. Hoje, mais importante do que as raízes, que nos conduzem à terra onde o homem apodrece, como lembra Amin Maalouf, são as estradas que pelo seu entrecruzamento nos levam à constituição dos nossos traços identitários.
Acerca desta necessidade que o homem tem de ser com os outros, Küng não esquece de dizer que só seremos, só sobreviveremos, se no mundo em que vivermos “não coexistirem, durante muito tempo, espaços éticos dispares, antagónicos e até mesmo rivais”
[9]. O mundo necessita de uma ética de base que, como a de Küng, não esqueça:
• “o que pressupõe a paz interna no seio de uma pequena ou grande comunidade? – Resposta: a concordância colectiva acerca da vontade de resolver os conflitos sociais sem o recurso à violência;
• o que pressupõe a existência de uma ordem social e económica? – Resposta: a concordância colectiva acerca da vontade de respeitar uma dada forma de organização social e determinadas leis;
• O que pressupõem as instituições que encarnam tais formas de organização e que, não obstante, estão constantemente sujeitas a transformações históricas? – Resposta: uma vontade colectiva, pelo menos implícita, de as continuar a manter
[10].
Por outras palavras, Küng considera importante um comprometimento global, com uma cultura da não-violência, o respeito pela vida, a solidariedade, a justiça, a tolerância, a veracidade (não mentirás: fala e age com verdade) e a igualdade de direitos com irmandade ou, atrever-me-ia eu a dizer, hospedagem.
Mas, atenção, quando se fala na necessidade de uma ética de base, não se está a dizer que a humanidade carece de uma religião ou ideologia únicas ou unificadas. O que se quer significar, isso sim, é que o homem e o seu mundo necessitam de um conjunto de normas, valores, ideias e objectivos que promovam a dimensão relacional intrínseca à natureza humana. No fundo, o que se exige é uma das mais antigas regras de ouro: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti ou, para utilizar a fórmula positiva, faz aos outros o que queres que te façam a ti e, para isso, não te esqueças de aprender a ver a realidade, também, com os olhos do outro e de ajudares o outro a ver a tua com os teus olhos.
Esta interdependência entre o eu e o tu, para não falar de outras realidades, como a necessidade de preservar o planeta para as gerações vindouras, exige o abandono de atitudes etnocêntricas e relativistas e a adopção de modelos de acção profiláticos da humanidade que tenham por base a interacção, a integração, a compreensão, o respeito, a responsabilidade perante e pelo outro, o cuidado, o afecto e a colaboração/cooperação, é dizer, que acentem num diálogo autêntico que pressuponha a utilização de linguagens de compreensão mútua. De facto, não é possível resolver os problemas actuais senão for por meio da cooperação e isto, por sua vez, não consegue lugar sem a capacidade de ver pelos/com os olhos do outro. O que valem as acções de um país, sozinho, perante realidades como o aquecimento global ou necessidades como a dos quatro erres (reduzir, reciclar, rejeitar e reutilizar)? Tais fenómenos só poderão ser enfrentados com a ajuda de todos. As atitudes de fechamento e isolamento, bem como a ideia de que eu sou melhor do que tu, não fazem mais sentido. É urgente que o homem queira ser pessoa autêntica e, com isso, queira evitar o mal e praticar o bem aos seus e aos olhos do outro. As pretensões de verdade absoluta devem ser substituídas, como diz J. Masía e R. Panikkar, pelo diálogo dialógico (desejo de verdade) e não dialéctico (baseado numa razão unívoca e ditatorial/certeza de verdade), o que, no campo religioso, equivaleria, por exemplo, ao reconhecimento, tanto por parte do cristão como do budista, que “Deus”, o “Nada” ou o “Vazio” “teriam de estar para lá do Deus Cristão e para lá do Nada e do Vazio budistas”
[11]. Mas atenção, esta “luta pela igualdade não implica o esquecimento das diferenças (…). Como refere Boaventura Sousa Santos (…): temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”[12]. O reconhecimento da diferença é a condição necessária para garantir uma igualdade mais profunda. O canibalismo cultural não pode ter lugar num mundo em que o diálogo cultural é a condição da humanidade.


Sónia Rodrigues
27/07/2009

[1] Savater, Perguntas da Vida, p. 194.
[2] Savater, Ética para um Jovem, p. 65.
[3] Anselmo Borges, Separata Igreja e Missão, p. 353.
[4] Mia Couto, Cada Homem é uma Raça, p. 121.
[5] João Maria André, Identidades… p. 15.
[6] João Maria André, Interpretações p. 2.
[7] João Maria André, Interpretações p. 2.
[8] João Maria André, Interpretações p. 31 (adaptado)
[9] Hans Küng, Projecto para uma Ética Mundial, p. 11.
[10] Hans Küng Projecto para uma Ética Mundial, p. 60 e 61.
[11] Anselmo Borges separata, p. 354.
[12] João Maria André, Interpretações… p. 28.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Autonomia e Radicalidade da Filosofia - Filosofia 10.º ano

ESCOLA:


FILOSOFIA - 10.º __
Ficha de trabalho n.º __

Abordagem introdutória à Filosofia e ao filosofar.
O que é a Filosofia? Uma resposta inicial.
Tema-Problema: Qual a especificidade (ou quais as características) da filosofia?

1. Lê, atentamente, os textos 1 e 2.

TEXTO 1
A AUTONOMIA DA FILOSOFIA
«A Filosofia é autónoma, isto é, o saber filosófico, não depende de outros saberes. (…) A Filosofia não se confunde com a ciência (…), porque a sua actividade não assenta nas experimentações ou na verificação observacional; não se confunde com os saberes religiosos porque não tem por base a autoridade religiosa, a tradição ou a revelação; não se confunde com a política, porque não visa conceber a melhor forma de organizar o poder. (…) A Filosofia tem o seu próprio modo de pensar, mas dialoga com todos os saberes, reflectindo a dimensão comunitária da vida.
A Filosofia é ainda autónoma, porque (…) não há Filosofia sem um uso autónomo da razão. O exercício da Filosofia só é autêntico filosofar quando é feito de forma livre e pessoal, isto é, emancipado de tutela.
Ousar pensar por si próprio, arriscar ter as suas próprias ideias sobre a natureza, sobre a vida e o mundo é uma das características da actividade filosófica e, por isso mesmo, da própria Filosofia.»
Magalhães, J. Baptista (1997), Viver & Filosofar, Introdução à Filosofia 10.º ano, pp. 121

TEXTO 2
A RADICALIDADE DA FILOSOFIA
«Ser radical significa ir à raiz dos problemas, não ficar pela superficialidade da opinião. O Filósofo é um homem de convicções e só tem convicções quem não navega nas ideias feitas, mas levanta todos os porquês, problematizando e aprofundando até aos limites as questões que o inquietam.
Podemos dizer que a radicalidade tem dois sentidos:
- Significa procurar as primeiras causas, o fundamento último ou os primeiros princípios.
- Significa que tudo pode ser problematizado.»
Magalhães, J. Baptista (1997), Viver & Filosofar, Introdução à Filosofia 10.º ano, pp. 122

1.1. Indica, no teu caderno, a(s) razão(ões) pela(s) qual(ais) a Filosofia é autónoma.

1.2. Por que é que se diz que a Filosofia é radical?
A Professora

A Dimensão discursiva do trabalho filosófico - 10.º Filosofia

ESCOLA:

FILOSOFIA - 10.º __ / Ficha de trabalho n.º __

Abordagem introdutória à Filosofia e ao filosofar.
A dimensão discursiva do trabalho filosófico.

A DIMENSÃO DISCURSIVA DO TRABALHO FILOSÓFICO

I - A Filosofia como trabalho.

1. Lê, atentamente, o texto que se segue.

“Trabalho – Actividade consciente do homem aplicada à produção de bens úteis, dotados de valor (…). Segundo o conteúdo do esforço, pode ser manual ou intelectual. (…) Engels (…) considerou-o factor de humanização. O trabalho está intimamente ligado ao desenvolvimento técnico e científico (…).”
Nova Enciclopédia Portuguesa, Ediclube, 1992, volume 25, p.2334

1.1. Consideras a Filosofia um trabalho. Justifica a tua resposta.

2. Indica ferramentas próprias do trabalho filosófico.

II – A Filosofia como discurso.

1. Lê a página 35 do teu manual de Filosofia e responde à questão que se segue.
1.1. Porque é que a Filosofia se diz discursiva?

III – Os enunciados filosóficos.

1. Lê o texto abaixo transcrito.

“A classificação dos enunciados pode fazer-se de acordo com o objectivo da mensagem (…). Assim os enunciados que têm por finalidade expor informações, transmitir acontecimentos ou experiências, denominam-se informativo-expositivos; (…) os que têm como objectivo a apresentação de razões e dados em defesa de uma opinião consideram-se expositivo-argumentativos. Note-se que existem outras designações para os tipos de discursos, nomeadamente apoiadas nas teorias de Roman Jakobson, Benveniste ou Werlich. Este último distingue o tipo descritivo, narrativo, expositivo, argumentativo e instrutivo.”
Vasco Moreira e Hilário Pimenta, Dimensões do Português - 10.º, Português B, Porto Editora, 1993, p.34.

1.1. Identifica o enunciado característico da Filosofia e indica o seu objectivo.

IV – A Filosofia como Hermenêutica[1].

“Para iniciarmos a leitura de um texto filosófico precisamos de:

- Conhecer os elementos constitutivos do discurso argumentativo;
- Contextualizar o autor na História da Filosofia: é um autor da antiguidade ou da modernidade?;
- Procurar saber quais os textos da História da Filosofia que influenciaram o autor de forma significativa, pois a escrita filosófica é sempre uma reescrita e um retomar de questões essenciais;
- Identificar o problema a que o texto procura responder;
- Ter ao lado um dicionário de Filosofia (para além do de Português)”
Agostinho Franklin, Isabel G. e J. V. Lourenço, Ensaios de Filosofia para não-filósofos, Porto Editora, 2003, p. 62
[1] - Hermenêutica: ramo da Filosofia que se debate com a compreensão humana e a interpretação de textos escritos.
A Professora